Simbolismo
O movimento simbolista surge ao final do século XIX, trazendo em sua poesia uma nova visão sobre o mundo. O simbolismo retoma aspectos do Romantismo, como o uso da subjetividade, por exemplo, e o aprofundamento das emoções. Além disso, com o intuito de desvincular-se de questões materiais, a poesia simbolista aprecia o plano transcendental, ou seja, o plano espiritual torna-se muito mais valorizado do que o plano concreto, o da matéria.
João da Cruz e Sousa (Nossa Senhora do Desterro, 24 de novembro de 1861 — Curral Novo, 19 de março de 1898) foi um poeta brasileiro. Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi o mais importante poeta simbolista brasileiro. Com os livros: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (versos) inaugurou oficialmente o Simbolismo no Brasil.
João da Cruz e Sousa foi um poeta brasileiro. Suas obras foram de grande importância para o movimento Simbolista. O poeta nasceu no dia 24 de novembro de 1861 em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, em Santa Catarina.
Seus pais eram escravos negros, e foram alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa. João já nasceu dono de sua liberdade e foi protegido e acolhido como filho pelo Marechal e sua esposa, Clarinda Fagundes de Sousa.
Contexto histórico
Esse período é marcado por muitas movimentações sociais e econômicas em contexto mundial. Entre elas, podemos citar: os reflexos econômicos e o progresso comercial da Revolução Industrial; as aspirações democráticas da Revolução Francesa, a ascensão da burguesia, a exclusão das camadas mais baixas em relação ao seu desenvolvimento igualitário e distribuição de renda e, também, a obtenção de lucros do Imperialismo são fatores que fizeram com que o homem daquele momento se sentisse frustrado com as promessas de igualdade e oportunidade para todos.
Neste sentido, iremos perceber que o homem tenta fugir dessa realidade e passa por uma crise existencial, aprofundando seus sentimentos e retomando a traços pessimistas, principalmente a características da 2ª Geração Romântica. Ademais, a temática simbolista reage ao esquema materialista do século XIX, como também a objetividade propagada pelas correntes cientificistas.
Na França, vivia-se o momento da chamada “Belle Époque”, momento em que houve uma explosão de mudanças culturais , tecnológicas, literárias, artísticas e de pensamento. Sobre as influências literárias, não podemos deixar de citar Charles Baudelaire (o famoso autor de a obra “As flores do mal”), Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé.
Alphonsus de Guimaraens
Características do simbolismo
Veja, abaixo, os principais aspectos do movimento Simbolista:
- Valorização do plano metafísico;
- Misticismo;
- Pessimismo;
- Subjetividade
- Caráter sugestivo;
- Aproximação ao elemento noturno;
- Referências ao plano religioso;
- Culto ao sonho;
- Aproximação com o campo inconsciente do indivíduo.
Em relação aos aspectos mais marcantes da forma, há a valorização da linguagem culta, o uso de sonetos, a musicalidade, o uso de figuras de linguagem (como metáforas, sinestesias, assonâncias e aliterações) e o predomínio de rimas.
É importante dizer ainda que, no Brasil, os principais autores foram Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Souza. O primeiro buscou dedicar suas temáticas artísticas para o amor, morte e religiosidade, focadas em uma intrínseca relação de solidão e isolamento. Já o último também se destaca por ser um grande nome desse movimento por apresentar em sua poesia uma abordagem sobre a condição humana, a valorização da melancolia e a espiritualidade, com certa obsessividade pela cor branca em seus poemas.
Textos de apoio
Texto I
Cavador do Infinito
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.
Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.
E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...
Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!
Cruz e Souza
Texto II
Longe de Tudo
É livre, livre desta vã matéria,
Longe, nos claros astros peregrinos
Que haveremos de encontrar os dons divinos
E a grande paz, a grande paz sidérea.
Cá nesta humana e trágica miséria,
Nestes surdos abismos assassinos
Temos de colher de atros destinos
A flor apodrecida e deletéria.
O baixo mundo que troveja e brama
Só nos mostra a caveira e só a lama,
Ah! só a lama e movimentos lassos... (cansaço)
Mas as almas irmãs, almas perfeitas,
Hão de trocar, nas Regiões eleitas,
Largos, profundos, imortais abraços!
Cruz e Souza
Texto III
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimaraens
A Religiosidade Litúrgica
A morte precoce de sua amada associada ao clima místico das cidades barrocas mineiras serviram de inspiração para Alphonsus de Guimaraens. Ao contrário de Cruz e Sousa, que apresenta uma espiritualização filosófica e repleta de angústias, a de Alphonsus traz elementos mais voltados ao emotivo, baseando-se em preces e crenças simples. Demonstra que a divinização de Nossa Senhora corresponde à sublimação do amor pela mulher amada morta, sugerindo a troca de uma paixão concreta por uma devoção católica.
Tal tendência pode ser observada em seu poema
A catedral:
Entre brumas ao longe surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! (...)
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino dobra em lúgubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!
Principais Obras de Alphonsus de Guimaraens
Manuscrito de um soneto de Alphonsus de Guimaraens
- Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899)
- Dona Mística (1889)
- Câmara Ardente (1899)
- Kyriale (1902)
Afonso Henrique da Costa Guimarães (seu nome civil) morreu na cidade de Mariana (MG) no dia 15 de julho de 1921, praticamente na obscuridade, às vésperas da Semana de Arte Moderna.
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