sábado, 23 de julho de 2022

Trilogia indianista de José de Alencar

 Trilogia indianista de José de Alencar se refere aos três romances de temática indigenista escritos por José de Alencar: 

O Guarani, Iracema e Ubirajara.

indianismo foi uma das principais tendências do Romantismo brasileiro. Dele saíram algumas das melhores contribuições da nossa literatura romântica, quer na poesia de Gonçalves Dias, quer na prosa de José de Alencar.

A produção diversificada de Alencar estava voltada ao projeto de construção da cultura brasileira, no qual o romance indianista, buscando um tema nacional e uma língua mais brasileira, ganha papel de destaque.




Ubirajara

O livro conta a história de Jaguarê, caçador araguaia que busca algum inimigo para lutar e levar para sua aldeia, com o objetivo de obter o título de guerreiro. Em sua procura por alguém com quem lutar, o caçador acaba encontrando Araci, uma índia tocantim que era filha do chefe de sua tribo.

A moça conta para ele que é disputada por cem guerreiros de sua nação e convida-o para também disputá-la. O jovem pede, então, para que ela retorne à sua tribo e mande o recado para os cem pretendentes de que ele iria combater todos eles. Araci faz como pede Jaguarê e volta para a sua tribo com o objetivo de dar esse recado.

Depois de um tempo, o caçador encontra Pojucã, irmão de Araci, com quem luta. Jaguarê consegue vencer a luta contra Pojucã, recebendo o título de Ubirajara, que significa “senhor da lança”.

Assim, Ubirajara leva o vencido para a sua aldeia e oferece para ele sua antiga pretendente, a bela Jandira. Porém, Jandira não quer ficar com nenhum homem a não ser Jaguarê e, por isso, decide fugir para a floresta.

Em meio a isso, Ubirajara decide ir para a aldeia de Araci e não se identifica (pois a hospitalidade dos tocantins permitia isso), adotando o nome de Jurandir, que significa “aquele que veio da luz”. Lá, ele combate todos os pretendentes de Araci e vence todas as batalhas, ganhando a mão da jovem em casamento.

No entanto, para casar, ele teve que falar seu verdadeiro nome, o que causou uma grande confusão, pois ele havia feito o irmão de Araci de prisioneiro em sua tribo. Assim, começa uma grande guerra entre tribos, com Pojucã sendo libertado para lutar com seus irmãos tocantins e com a chegada dos tapuias, que atacam antes dos araguaias.

Itaquê, o líder tocantim, consegue vencer o líder dos tapuias, mas acaba ficando cego e perdendo sua liderança. Com isso, é preciso escolher um novo líder, que deveria conseguir pegar o arco de Itaquê, dobrá-lo e atirar com ele.

Contudo, nenhum índio tocantim consegue o feito, nem mesmo Pojucã, filho do líder. Com isso, Ubirajara é convidado para tentar, e ele o faz com tanta habilidade que Itaquê fica emocionado.

Assim termina o livro: Ubirajara dobra os arcos das duas nações, tocantim e araguaia, unindo-as e dando origem à nação Ubirajara.





Iracema 

Iracema é um livro que pertence a diversos gêneros textuais, entre eles o romance histórico (por contar uma história de origem do Ceará) e poema em prosa (por causa da maneira como é escrito pelo autor)

O livro é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente e onipresente, que conta tudo de modo muito descritivo e poético. O casal protagonista é formado pela índia Iracema e pelo português Martim, que se encontram quando a índia está fazendo sua sesta (repouso após o almoço) e se assusta ao ouvir o estranho, o que lhe faz atirar uma flecha em Martim.

Vendo que o rapaz não reagiu ao ataque e que não tinha más intenções, Iracema o socorre e decide levá-lo para sua tribo, a dos tabajaras. Chegando lá, Martim é recebido pelo pajé Araquém (pai de Iracema), com quem firma um acordo de defesa da tribo. Em troca de proteção, o pajé oferece ao português uma boa hospedagem e muitas mulheres belas. Porém, Martim não toca em nenhuma mulher, pois só tem olhos para Iracema, a virgem dos lábios de mel.

Em meio a sua estadia, Martim descobre que Iracema detém o segredo de jurema (uma fruta com a qual se faziam rituais muito sagrados), e que por isso ela deveria manter sua virgindade.

Porém, ele passa a se apaixonar cada vez mais pela índia. Ela corresponde ao seu amor, para a grande inveja de Irapuã, guerreiro tabajara que é apaixonado por Iracema e que tenta prejudicar e ferir Martim.

O casal acaba vivendo um romance proibido e, quando Martim precisa partir para uma guerra com outra tribo, Iracema decide ir com ele e levá-lo até o amigo do português, o guerreiro Poti.

Martim resolve fazer uma cabana para ele e Iracema. Lá, descobre que ela ficou grávida e, mesmo com os apelos da índia, de que não queria ser deixada sozinha, o português parte junto com o seu amigo para defender a tribo dos tabajaras, sem se despedir de sua amada.

Após o retorno de Martim, as coisas não são mais o que costumavam ser. Ele sente saudade de Portugal, sua terra natal, enquanto Iracema sente saudade do seu povo, com quem não pode mais viver depois de ter desrespeitado a tradição e fugido com o português, abandonando sua virgindade.

Depois de um tempo, Iracema dá à luz a um menino, que ela nomeia Moacir. Logo após ter o bebê, ela procura por Martim e descobre que ele foi para a guerra novamente, o que a chateia muito.

Iracema recebe a visita de Caubi, seu irmão, que sempre a ajudou e cuidou dela. Ele fica muito feliz em conhecer seu sobrinho. Porém, Caubi nota que a irmã está acabada fisicamente e mentalmente, e que, por tristeza e saudades do amado, acaba não tendo mais leite para amamentar o recém-nascido.

O final de Iracema é triste: a índia acaba morrendo e entregando seu filho aos braços de Martim. A criança é a prova do amor dos dois, filha de uma indígena e um português, tornando-se o primeiro cearense de muitos outros que viriam.




O Guarani 


O livro começa com a apresentação da família de D. Antônio de Mariz, fidalgo português que decide morar no interior do Rio de Janeiro e que é totalmente a favor do poder português na colônia.

A família de D. Antônio conta com sua esposa, D. Lauriana, uma bela dama paulista, e seus dois filhos: D. Diogo de Mariz, que queria seguir os passos do pai, e Cecília, uma moça muito meiga, chamada carinhosamente de Ceci. Além deles, havia ainda Isabel, filha que D. Antônio teve fora do casamento com uma índia local, e que era tratada como uma sobrinha pela família.

Na fazenda da família, Antônio acaba conhecendo Peri, um índio da tribo dos Goitacases, que logo faz amizade com o fidalgo e se apaixona por Ceci depois de salvá-la de um ataque. Depois desse ato de bravura, Peri começa a morar com a família e faz todas as vontades da moça que ama. No entanto, ele não era o único que estava apaixonado por Ceci, pois Álvaro Sá, amigo da família, também amava a moça, lhe dando muitos presentes.

Cecília não tinha o menor interesse por Álvaro e o evitava a todo custo, porém, Isabel estava apaixonada pelo homem, que não a enxergava por estar cego com seu amor por Ceci. 

Assim, na obra temos um conjunto de amores não correspondidos, que formam diversos conflitos entre os personagens durante todo “O Guarani”.

Em meio a isso, a família é ameaçada por Loredano, que queria incendiar a fazenda de Antônio, roubar sua fortuna e sua filha. Contudo, Peri consegue evitar o incêndio, e todos descobrem a traição de Loredano, que acaba sendo preso e queimado numa fogueira.

Além disso, Diogo acaba matando sem intenção uma índia da tribo Aimoré, e com isso, desperta a raiva de toda a tribo, que decide atacar a fazenda e tentar matar todos que estivessem lá.

Peri, ao ver que Ceci estava em perigo, decide fazer um grande sacrifício para salvá-la. Ele toma um veneno e vai para o combate com os Aimorés. A ideia de Peri era a seguinte: como os Aimorés eram antropófagos (comiam seus inimigos para adquirirem força e coragem), ele seria morto e comido pelos índios, que morreriam por causa do veneno que Peri havia tomado e que estaria na sua carne.

Entretanto, Álvaro consegue saber dos planos de Peri e salva o índio, se machucando na batalha contra a outra tribo. Ao ver o amado quase morrendo, Isabel tenta se matar, mas acaba vendo que poderia salvar Álvaro. Porém, o homem não deixa que ela o salve, e ambos morrem juntos.

Em meio a tudo isso, Cecília descobre sobre o envenenamento de Peri, e pede a ele que viva, pois não queria perdê-lo. Assim, o índio consegue fazer um antídoto feito de ervas e sobrevive.

Com o ataque ainda acontecendo, Antônio batiza Peri como cristão e pede que ele fuja com Ceci. Quando o índio está levando a moça desacordada em seus braços, vê que Antônio explode sua casa, matando todos que estavam dentro dela.

Durante vários dias, o casal foge sem um destino certo, e no meio do caminho, acabam sendo tomados de surpresa por uma tempestade, que se transforma em um dilúvio.

Eles se abrigam no topo de uma palmeira, e Peri conta para Ceci a lenda indígena de Tamandaré e sua esposa, que se salvaram de um dilúvio abrigando-se na copa de uma palmeira desprendida da terra e comendo seus frutos até que pudessem descer, povoando toda a Terra com seus descendentes.

Depois que Peri conta essa história, as águas começam a subir, e Ceci se desespera, pois acredita que aquela é a hora em que vai morrer.

No meio da enchente, com uma força incrível, Peri consegue arrancar a palmeira e fazer dela uma canoa, para que possam continuar pelo rio.

Assim, temos o final de “O Guarani”: Peri e Ceci acabam repetindo a lenda de Tamandaré e sua esposa, ao cruzarem as águas com a canoa feita da palmeira que Peri arrancou da terra.


"Canção do exílio

O poema “Canção do exílio”, do livro Primeiros cantos, é um símbolo do nacionalismo romântico brasileiro. A obra é composta em redondilha maior (sete sílabas poéticas), um tipo de verso muito usado no Romantismo. Escrito quando o autor estudava em Portugal, em 1843, o poema reflete a saudade que Gonçalves Dias sentia de sua terra natal. Assim, a obra enaltece o Brasil ao afirmar que não existe lugar melhor do que tal país:


“Canção do exílio”

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.


Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.


Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar, sozinho, à noite

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.


Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o sabiá.  


Gonçalves Dias

https://brasilescola.uol.com.br/literatura/goncalves-dias.htm


I-Juca Pirama e o romantismo brasileiro

Supõe-se que o poema épico I-Juca Pirama tenha sido escrito entre 1848 e 1851, o certo é que a criação foi lançada no livro Últimos cantos (1851) e pertence a primeira fase do romantismo brasileiro.

O título do poema significa “o que há de ser morto, e que é digno de ser morto.”

O romantismo se iniciou na primeira metade do século XIX e, no caso do Brasil, se dividiu em três grandes gerações. Gonçalves Dias pertenceu a essa primeira fase, que tinha como principal objetivo valorizar o que havia de nacional. O índio foi considerado o grande herói do movimento. Em sua escrita, o autor procurava também exaltar as belezas naturais do país e deixava transparecer um tom sentimental, típico do romantismo.









IV 
Meu canto de morte, 
Guerreiros, ouvi: 
Sou filho das selvas, 
Nas selvas cresci; 
Guerreiros, descendo 
Da tribo Tupi. 
Da tribo pujante, 
Que agora anda errante 
Por fado inconstante, 
Guerreiros, nasci: 
Sou bravo, sou forte, 
Sou filho do Norte; 
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.


Principais características do Romantismo no Brasil

A seguir listamos as principais características do Romantismo no Brasil:

Rompimento com a tradição clássica

Esse movimento literário surgiu para romper com os modelos clássicos greco-romanos que se baseavam na perfeição e arte erudita.

Maior liberdade formal

O Romantismo é contrário ao tradicionalismo e formalismo de escolas anteriores. Na produção literária romântica, é possível encontrar versos sem rima e sem métrica. Também se utiliza uma linguagem informal e regionalista.

Amor platônico e idealização

Nas obras românticas é comum observar a idealização do amor, da sociedade e da realidade.

Idealização da mulher

A mulher nas obras românticas representa a beleza, inocência, pureza e delicadeza.

Indianismo

O grande herói nacional escolhido pelo Romantismo é o índio. O indígena é idealizado como um ser inocente e puro.

Nacionalismo e ufanismo

Os escritores românticos exaltam valores culturais, históricos e artísticos do país. Há demonstração de orgulho da nação.

Culto à natureza

Os autores enfatizam com grandiosidade as belezas naturais do Brasil.

Evasão e escapismo

Tem forte desejo de fugir do dia a dia, da realidade e do sofrimento. Autores românticos criam um ambiente idealizado.

Egocentrismo e subjetivismo

O foco da literatura romântica está nos sentimentos e emoções dos escritores. Os textos têm caráter individualista.

Sentimentalismo exacerbado

As emoções pessoais são supervalorizadas, isso demonstra forte oposição ao pensamento objetivo e racional.

Religiosidade

O Romantismo tem grande preocupação no apego aos valores cristãos. Diferente do racionalismo, que desconsidera valores religiosos.

Fases do Romantismo no Brasil

O Romantismo no Brasil é dividido em três fases, chamadas também de gerações. Cada fase tem características específicas e conta com vários escritores. Confira mais detalhes sobre essas fases.

1ª Fase do Romantismo no Brasil (1836 a 1852)

Essa fase tem como principais características o nacionalismo, o indianismo e a religiosidade. Depois da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, os escritores brasileiros passaram a dar ênfase para temas nacionais e que se relacionassem com seu sentimento patriótico, haja vista que uma nova nação estava sendo erguida.

Nessa primeira fase, há forte presença da valorização da história, cultura e tradições populares. O herói nacional escolhido é o índio, idealizado como um ser inocente e puro. Os principais escritores e obras dessa primeira fase romântica são:

  • Gonçalves de Magalhães (1811-1882) - Autor de Suspiros poéticos e saudades (1836) e A Confederação de Tamoios (1857).
  • Gonçalves Dias (1823-1864) - Autor de Canção do exílio (1843), I-Juca-Pirama (1851) e Os Timbiras (1857).
  •  José de Alencar (1829-1877) - Autor de O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

2ª Fase do Romantismo no Brasil (1853 a 1869)

Essa fase é marcada pelo egocentrismo exacerbado e pelo pessimismo, essa geração de românticos ficou conhecida como “Mal do Século” ou “Ultrarromântica”. Houve grande influência da poesia do inglês George Gordon Byron, (1788-1824), pois isso, essa geração é também chamada de “Byroniana”.

Dentre os temas recorrentes dessa fase estão a dúvida, o pessimismo, o negativismo, a exaltação da morte, o egocentrismo, a boêmia e a fuga da realidade. Os principais escritores e obras dessa fase do Romantismo no Brasil são:

  • Álvares de Azevedo (1831-1852) - Autor de Lira dos vinte anos (1853), Noite na taverna (1855) e Macário (1855).

  • Casimiro de Abreu (1839-1860) - Autor de As primaveras (1859).

  • Fagundes Varela (1841-1875) - Autor de Noturnas (1861), Cântico do Calvário (1863) e Cantos e fantasias (1865).

  • Junqueira Freire (1832-1855) - Autor de Inspirações do Claustro (publicada após sua morte).

3ª Fase do Romantismo no Brasil (1870 a 1880)

Geração romântica que apresenta forte cunho social e libertário, sendo chamada de “Geração Condoreira”. Esse período é bastante associado à figura do condor, a águia da cordilheira dos Andes, por conta da sua representação de liberdade.

Devido à forte influência do escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885) essa geração é também chamada de “Hugoana”. Os principais temas abordados pelas obras foram problemas sociais e o abolicionismo. Os principais autores e obras dessa fase do Romantismo são:

  • Castro Alves (1847-1871) - Autor de O Navio Negreiro (1869). Tornou-se conhecido como “poeta dos escravos”.
  • Tobias Barreto (1839-1889) - Autor de Amar (1866), A Escravidão (1868) e Dias e noites (1893).
  • Sousândrade (1833-1902) - Autor de Harpas Selvagens (1857) e O Guesa (escrito entre os anos de 1858 e 1888).


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