Movimento com foco na imagem e na poesia
O Concretismo foi um movimento literário que surgiu em meados da década de 50, tendo como uma das principais influências a arte concreta. O principal foco do Concretismo no Brasil foram as mudanças na forma de fazer poesia. Para os artistas, a poesia era, além de palavra e som, visual.
Esse conjunto de características inclusive recebeu o nome de "verbivocovisual". Para eles, "verbi", fazia referência a verbo, ou seja, a palavra. Já "voco" era o som, a leitura da poesia. Por fim, o "visual", que era a principal característica do movimento.
No Brasil, o Concretismo teve como principais nomes os artistas Augusto de Campos e Haroldo de Campos, que são conhecidos como "os irmãos campos" e Décio Pignatari. Juntos, os três foram os responsáveis por impulsionar o movimento na poesia brasileira.
Poesia do Concretismo que unia palavra e imagem. (Foto: Wikimedia)
O poema do Concretismo
Durante o Concretismo, os artistas tinham como questionamento o uso tradicional do espaço em branco do papel ou da tela. Por isso, decidiram que não iriam se limitar a escrever de forma tradicional de leitura ocidental: da esquerda para a direita e de cima para baixo.
A característica que ficou conhecida como “poesia espacial”, permitia que surgissem diversas possibilidades para que os artistas usassem a imaginação e a criatividade. As poesias do Concretismo então passam a utilizar os mais diferentes formatos, como círculos, cascata e até palavras formadas por outras palavras.
Nesse momento, o que importa para o artista concretista não é o poema em si, e sim a parte visual da poesia. Por muitas vezes, a imagem se sobrepõe às palavras, pois para o artista do Concretismo, o visual do poema deve ter mais destaque.
Outra forte característica do movimento é a falta do verso e da estrofe, formato tradicional das poesias. As palavras não precisam necessariamente ter rima e, algumas vezes, sentido. Nesse momento, os artistas ainda deixam de lado o uso de pontuação nas obras.
Os artistas passam a usar a decomposição de palavras, ou comutação. Isso quer dizer que as palavras dão origem a outras palavras iguais ou semelhantes. Essa, inclusive, é uma das maiores características que define o poema concretista.
Isso permite que a pessoa que vê a poesia faça diversos tipos de leitura, tanto na questão do sentido das frases, como na interpretação do conjunto das palavras.
Surgimento do Concretismo
Os principais criadores do movimento concretista no Brasil foram os irmãos Augusto de Campos e Haroldo de Campos, juntos com Décio Pignatari. Eles já trabalhavam juntos no clube da poesia.
Os três acabaram se desentendendo com outros integrantes do grupo, por não concordarem com muitos dos ideais do clube da poesia. Eles resolveram então se separar e fundar a sua própria revista, que recebeu o nome de "Noigandres".
Essa revista, lançada em 1952, é considerada até hoje marco inicial do movimento. Já na segunda edição, Augusto de Campos publicou vários poemas que foram chamados de "poetamenos". Esses são considerados os primeiros poemas concretistas.
Em 1956, aconteceu no Museu de Arte Moderna de São Paul (MAM) a Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, o que deu mais impulso para o estilo. Augusto de Campos chegou a trabalhar na organização do evento.
Anos mais tarde, o artista teria muitas de suas obras expostas em museus no Brasil e no mundo.
Arte Concreta
A arte concreta foi um movimento artístico que surgiu no início do século XX na Europa. A intenção era fazer um tipo de arte usando diferentes linguagens.
No início, a ate concreta focava em cores e planos. Mais tarde, passou a se usar superfícies, enquadramentos cenográficos e outros elementos.
Mas as formas geométricas foram as que dominaram o estilo, principalmente na primeira fase.
O termo surgiu do Manifesto da Arte Concreta, uma publicação do neerlandês Theo Van Doesburg. Theo foi um poeta, designer gráfico, arquiteto e artista plástico.
O manifesto foi publicado pela revista Art Concret em 1930. Nele, o poeta definia seis bases para o movimento, dentre elas, que a arte é universal.
Um dos maiores expoentes da arte concreta foi Max Bill. Ele foi, inclusive, o responsável por trazer o movimento que influenciou o Concretismo para o Brasil.
A poesia concreta aproveitava todos os espaços. (Foto: Wikimedia)
Neoconcretismo
No final da década de 50 surge, na cidade do Rio de Janeiro, um movimento que fazia oposição aos ideais do Concretismo. Ele ficou conhecido como Neoconcretismo.
Esse movimento não ficou limitado a literatura, mas atuou ainda nas artes plásticas, nas esculturas e nas performances. Os principais nomes desse estilo foram a mineira Lygia Clarck e maranhense Ferreira Gullar.
Enquanto o grupo do Concretismo, que ficava em São Paulo, ficou conhecido como "Grupo Ruptura", o grupo do Neocronretismo, do Rio de Janeiro, ficou conhecido como "Grupo Frente".
O Neoconcretismo acreditava que as artes tinham sensibilidade, expressividade e subjetividade, e não que eram apenas formatos geométricos ou objetos. O movimento não chegou a sair do Rio de Janeiro.
Em 23 de março de 1959 um grupo formado por Ferreira Gullar, Theon Spanudis, Lygia Clarck, Lygia Pape, Franz Weissmann e Amilcar de Castro publicou o Manifesto Neoconcreto. O manifesto foi publicado no suplemento dominical do Jornal do Brasil.
Nesse mesmo dia acontecia a 1² Exposição de Arte Neoconcreta. Ela foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Todos os artistas que participaram do manifesto estiveram presente na exposição.
No ano seguinte, a exposição foi realizada no Ministério da Educação, também no Rio de Janeiro, e em 1961 a última exposição aconteceu no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Inicialmente, Ferreira Gullar e Lygia Clark faziam parte do grupo do Concretismo. Gullar foi o primeiro a se afastar do Concretismo, em 1959, ano em que fundou o movimento do Neoconcretismo.
Em seguida, foi a vez de Lygia Clarck romper com o grupo concretista e se juntar ao Neocontretismo de Gullar. A artista acreditava que a poesia não poderia se distanciar da palavra, fosse ela falada ou escrita.
Uma das obras neoconcretistas de Lygia Clark foi vendida em 2013 por US$ 2,2 milhões ou R$ 4,5 milhões. Intitulada Obra Relevo, o trabalho da artista foi leiloado em Nova York e foi, até aquela data, a obra brasileira mais cara a ser vendida em um leilão.
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